|
Luz de todos os dias
Rotineiramente, dia após dia, fazemos uso constante do
espelho. Penteia aqui, arranja acolá, e estamos prontos para enfrentar a dura vida escolar.
Não seria, espero, novidade se anunciasse que o reflexo que nós contemplamos é somente uma
imagem invertida do que realmente está diante do vidro. Apenas quem nos vê com os seus
próprios olhos adquire uma imagem fiel e directa da nossa pessoa.
Claro que isto é evidente. Claro que sim. Mas se eu vos afirmar que o céu que vemos não é,
verdadeiramente, o céu actual, dos nossos dias, talvez haja uma pequena reacção de suspeita.
Sucede que a luz, apesar de imensamente veloz, tem uma velocidade comensurável (300 mil
quilómetros por segundo). O ano-luz é uma aplicação prática desse facto, sendo a sua
unidade o espaço que a luz percorre num ano, permitindo registar grandes distâncias
com menos algarismos que os utilizados para leituras em metros ou em quilómetros, o
que não significa que, mesmo assim, as leituras não impliquem muitos zeros à mistura.
Se pensares que todos os corpos celestes que vês no céu estão a dezenas, centenas,
milhares de anos-luz de distância, com excepção de alguns cometas e dos constituintes
do sistema solar, então talvez te apercebas do atraso com que a luz desses astros
chega a nós aqui, na Terra. E, como é óbvio, quanto mais distante, maior o atraso.
Contudo, mesmo os mais próximos têm a sua delonga: a luz solar demora oito minutos a
chegar à Terra, ou seja, quando alguém vê o Sol nascer, já ele está, na realidade, acima
da linha do horizonte há oito minutos; quando o romântico pôr do Sol se consuma, já o
astro-rei desapareceu há - adivinha - oito minutos. Próxima Centauri, a estrela mais
próxima do sistema solar, encontra-se a 4,3 anos-luz.
Este fenómeno é extremamente importante pois permite ao ser humano observar
"directamente" o início do Universo, fotografando, com essa maravilhosa máquina
de nome Hubble, galáxias cuja distância é tão grande que a luz que agora é vista
foi emitida há 13 biliões de anos. O Big-Bang ocorreu há 14 biliões.
São verdadeiras galáxias bebés os objectos vistos pelos deslumbrados
astrónomos nas não menos deslumbrantes fotografias.
Foi já possível alcançar os 300 mil anos-luz de diferença do Big-Bang com o
satélite COBE (Cosmic Background Explorer), não a um nível visual, mas captando
radiações género microondas, as quais permitiram estudos sobre algumas características
do fenómeno capital do universo.
É esperado o lançamento futuro de telescópios que, ultrapassando o alcance do Hubble,
permitirão o desvendar das eras mais próximas do Big-Bang, senão o observar deste mesmo.
Traquinices ópticas.
Para aqueles que desejam aprofundar mais um pouco os seus conhecimentos em fenómenos
físicos e químicos, recomenda-se o livro A Física no Dia a Dia, de Rómulo de
Carvalho, edições Relógio de Água. Boa leitura.
|